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6 de ago. de 2016

Dicionário (im)Pessoal #4

Orgulho | s. m.

or·gu·lho 
(1ª pess. sing. pres. ind. de orgulhar)

Substantivo masculino
1. Manifestação do alto apreço ou conceito em que alguém se tem.
2. Soberba ridícula.
3. Brio.

Fonte da imagem

Definições do Dicionário (im)Pessoal:
1. Sentimento até certo ponto necessário e benéfico, mas facilmente torna-se corruptível e tóxico, corroendo relações e exacerbando propriedades inúteis;
2. Ego exagerado, facilmente ligado à ignorância, rancor e falsidade;
3. Incapacidade de se admitir com um defeito (que geralmente todos já sabem que se tem).
4. Ironicamente, falta de confiança em si próprio.

***
O Dicionário (im)Pessoal são conceitos de palavras corriqueiras mas que, ao contrário do livro tradicional, foge à regra por permitir interpretações diferentes por cada um que leia aquele termo. Fica a pergunta: o que a palavra da vez lhe traz de experiências, memórias ou sensações? Comente!

29 de jul. de 2016

Pensamentos Cotidianos

Estava em um bar hoje com alguns amigos quando uma mulher, em seus 30 anos mais ou menos, apareceu. Bonita e com um corpo dentro dos padrões "socialmente desejáveis", digamos assim. Mas ao invés de contemplá-la, em um estalo, mudei meu foco para reparar como o ambiente à sua volta reagiria com a presença dela.

Exceto por algumas atendentes, todos os presentes no local eram homens, com no mínimo também por volta de 30 anos, alguns uniformizados e indo/vindo do trabalho. Todos começaram a encará-la e reparar insistentemente nos dotes físicos da moça; eu notei isso e também vi que ela, apesar de se claramente notar os olhares todos recaírem sobre si, evitou qualquer tipo de contato visual, limitando-se apenas a interagir com os funcionários. Quando seu pedido chegou, ela o recolheu e foi embora.

Fiquei me perguntando, como em um exercício de empatia, quantos olhares, cantadas e outras banalidades deve ouvir todo dia. Não, não estava com "roupas provocantes" (o que também não dá direito de julgar ninguém), nem qualquer tipo de comportamento "provocativo".

Pensei na minha irmã, na minha mãe. Pensei na minha namorada e amigas,

Pensei sobre mim e minha postura para com algumas pessoas.

***

Momentos depois, um dos rapazes que estavam comigo à mesa disse:
"Namorar alguém tem que ser no máximo por dois anos; mais que isso enjoa e não compensa."
Estou em um relacionamento que vai fazer oito anos. Estou em um loop de enjoo eterno, então? Se eu me cansar, basta descartar? É mais fácil então adquirir uma coisa duvidosa mas nova do que consertar uma velha mas correta?

Novamente pensei, mas desta vez, sobre o comportamento das pessoas sobre ou para mim.

22 de jul. de 2016

Empatias e empregadas

Sabe qual é o problema das pessoas hoje? Falta de empatia.


Não, não é a porcaria de uma "escola sem partido" que vai salvar a educação de alguém - até porque, aos defensores dessa ideia bisonha, desafio-os a mostrar um sistema educacional apartidário e funcional em qualquer lugar do globo e que não seja envolto por um sistema político ditatorial. Pensar incomoda muita gente, correto?


Carecemos de falta de afeto, de empatia, de sensibilidade ao direito de ser do outro, de respeito às decisões alheias, de não apontar o dedo. Mas é hipocritamente melhor atribuir a educação (em todos os aspectos) à figura da escola, ao diploma, ao "mestre", ao "doutor", e esquecer que a formação mais elementar de todas vem de casa, do exemplo dos pais, do ensinamento do respeito, da dignidade como ser humano dentro de uma comunidade. É a típica hipocrisia social, do alívio e transporte da culpa de uma sociedade falida para a primeira coisa que se vem à cabeça. Vive-se dentro do entorpecimento de excessos e bipolaridades, onde só se pode ter uma única visão, e destoar dela é fraquejar seja lá com quem for.


Empatia: palavrinha simples e mágica até, servida acompanhada de respeito e abertura. De carinho, de afago, de abraço, de beijo, de um monte de coisa bonita e bacana, hoje todas largadas de canto.

Ler os depoimentos da página Eu Empregada Doméstica me engasgou. Tenho um épico exemplo de dignidade dentro de casa, e só de imaginar que alguma coisa parecida já possa ter acontecido com essa pessoa já me deixa sem ação, me faz sentir inútil. É por causa dessa pessoa que eu hoje não sou cego, que eu não tive problemas de garganta porque ela correu atrás, ela é quem não me deixou estacionar e me empurrou para frente, mesmo não tendo conseguido metade dos facilitadores que hoje eu tenho.


Empregado doméstico não é sinônimo de vergonha. Nunca foi.

Empatia, galera, empatia. 

14 de jul. de 2016

O encontro

O garoto estava ainda atordoado, ajoelhado, de frente à lápide do finado parente, olhava diretamente para o que estava escrito: o nome, data de nascimento e falecimento e a foto em preto e branco daquele homem que chegara ao fim de seus anos. Claramente o rapaz não aceitava a morte de tal senhor: de alguma forma, e somente agora, ele se deu conta de quão absoluto é o fim de algo que se ama.

Todos que foram ao enterro já tinham ido embora; haviam muitos rostos conhecidos, e outros nem tanto, e aqueles nada reconhecíveis. O entardecer trazia junto da sombra um vento frio, mostrando que o inverno ainda não terminara.

Por que ainda choras, rapaz? — uma voz estranha, quase cadavérica, surgiu próximo do garoto. Assustado, ele olha e vê um cidadão de meia-idade, trajando roupas finas, embora um pouco fora de moda, talvez. Tinha barba muito bem feita e cavanhaque pontudo, um bigote peculiar, cabelo e olhos negros feito carvão e um ar de ironia. O homem toca de leve o ombro do rapaz.

Cemetery Sundown
O garoto estranha um pouco: era impossível este homem ter chegado ali sem que ele visse, já que o túmulo fica em cima de uma colina, e o único caminho disponível era aquele cujo qual o rapaz estava de frente. Voltando a si, o ele comenta para o exótico homem:

— Porque perdi um parente muito querido. Todos ficam tristes quando perdem algo que gostam muito.

Ora, isso não ser novidade para ninguém — fala pacificamente o estranho, enquanto massageia os pelos do cavanhaque. — No entanto, sabes que a morte ser inevitável, então por que insistes em chorar?

O garoto fica maus confuso ainda, Quem diabos é esse cara que acaba de chegar e fica com esse papo agora? Não saberia ele respeitar o momento de dor alheia?

— Olha meu senhor, lidar com perdas é muito complicado. Estou em um momento difícil, e o senhor parece querer caçoar de mim... Respeite minha dor, por favor.

— Meu rapaz, não precisar ficar assim. Apenas acho engraçado vocês, que comemoram o nascer das coisas e se entristecem com desfazer delas, como se fossem absolutas. Tudo vem e vai. Não ser nada separado uma da outra; ambas fazer parte de um longo... processo.

— Quem é o senhor, para vir aqui me dizer isto? Conhecia meu parente?

O garoto estranha muito a fala do senhorio. É um pouco confusa, errada, com graves erros de concordância, mas passa uma firmeza sem igual. O estranho homem olha diretamente nos olhos do rapaz, solta um leve sorriso de canto de rosto e diz:

Eu conhecer seu parente, você, os que já se foram e os que virão, jovem. Eu vir aqui lembrar você de aproveitar o tempo que lhe resta, igualando o que se foi com que ainda fica. Vós perdestes muito de sua energia dedicando a coisas ruins e lembrar de coisas que já se foram, que não há nada mais o que fazer... Memórias ser coisas boas, mas podem lhe atrasar, ofuscar os olhos em virtude de tudo que a vida proporciona graças a uma finada sensação que tu insistes em ressuscitar. 

Lauren Hill Cemetery
"Lembre-se: você está aqui para viver. Para experimentar, arriscar, chorar, divertir, mas no fim, viver. O que há na morte é outra história, morra e descubra. Até chegar sua hora, ame, odeie, comece, termine, respire, inspire, brinque... Pois, pense: hoje subiste este morro para chegar até aqui, e haverá o dia cujo qual você nem de longe isso conseguirá, e depois desse dia, outro dia cujo qual será aqui repousado por muitas ou poucas pessoas. Você tens medo de roubar aquele beijo, pedir teu aumento no trabalho, de puxar papo com a rapariga... Pois não deveria, sabes? No fim, e apenas no fim, descobrirás que muito do que fizeste foi perda de tempo, e um outro punhado de coisas que deixastes para trás por medo de fazê-las lhe será tomado como um vazio. Vivas, meu rapaz, vivas. A cada aniversário, a cada ano, mais e mais estarei perto de ti e de surpresa tomarei o que é meu."

Assustado, o garoto olha para o túmulo do parente finado. Ao voltar o olhar, não vê mais ninguém. Teria sonhado? Não... Claramente não. Era real: o toque, a fala errada, o cheiro do tal homem... Não foi um alerta, e sim um conselho; e por mais misterioso que fora o encontro, o rapaz nãos sente medo.

Ele se levanta, limpa seus joelhos e desce pelo caminho entre covas abertas, jazigos e túmulos. A noite quase que chegara completamente. Mas pensando, na verdade, o raiar de tudo apenas começara a despontar.

8 de abr. de 2016

Dicionário (im)Pessoal #3

Respeito | s. m. | s. m. pl.

res·pei·to 
(latim respectus, -us, .ação de olhar para trás, .espetáculo, atenção)

Substantivo masculino
1. Sentimento que nos impede de fazer ou dizer coisas desagradáveis a alguém.
2. Apreço, consideração, deferência.
3. Acatamento, obediência, submissão.
4. Medo do que os outros podem pensar de nós. = RECEIO, TEMOR


Definições do Dicionário (im)Pessoal:
1. Ser capaz de ter empatia pela dor do outro, mesmo quando ainda não tiver tido a experiência de senti-la (o que ainda complica as coisas, porque a dor de um não remete ao outro diretamente);
2. Saber que a zoeira de fato não tem limites (e nunca terá [in]felizmente), mas tem hora, o que a diferencia do mau gosto propriamente dito;
3. Manter uma discussão civilizada dentro dos moldes aceitáveis e adultos, independentemente do grau de instrução dos envolvidos;
4. Admitir que o diferente de você, dos seus gostos, o que você veste ou calça, nada disso tem relevância sobre a integridade física e psicológica de alguém;
5. Admitir derrota, mesmo que ela soe como perda apenas para o nosso ego, que se recusa veemente em acreditar que é inabalável e dono da mais absoluta verdade.

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O Dicionário (im)Pessoal são conceitos de palavras corriqueiras mas que, ao contrário do livro tradicional, foge à regra por permitir interpretações diferentes por cada um que leia aquele termo. Fica a pergunta: o que a palavra da vez lhe traz de experiências, memórias ou sensações? Comente!

25 de mar. de 2016

Remédios

Enquanto ia para o trabalho essa semana, vi duas pessoas de idade, ambos com aparentemente setenta anos, um homem e uma mulher, conversando sobre saúde e remédios. Aparentemente já eram conhecidos de longa data (mas não com um relacionamento), e caminhavam com a limitação comum da idade.

Eu passava próximo a eles, e escutei o seguinte diálogo:

— Eu parei de tomar meus remédios — diz o homem.
— Por quê?
— Quanto mais remédio eu tomava, mais fraco eu estava. Tomava um remédio para cuidar de uma coisa, piorava outra. Arrumei um que agora tem me feito bem melhor agora.
— Qual?
— Caipirinha.
— Mas você não estava podendo beber...
— Nem estou podendo mesmo. Mas azar.
— Faz isso não homem. Pode te dar problema aí...
— Ah, azar. Já estou velho demais para ficar dando dinheiro pra esse povo que só quer ver a gente doente e ganhar em cima. Arrumei uma pinguinha aí, uns limões e sal, e mando pra dentro na hora do almoço. Fico bem, relaxado, nem preciso exagerar. Até a dor na perna sarou. Minha filha não gosta, mas eu não estou nem aí, é só um pouquinho por dia. Tenho me sentido realmente bem mais disposto, tanto por pegar e fazer um negócio que muito tempo não tomava quanto pelas lembranças que isso me traz.
— Uai, vou tomar uma co'cê lá...
— Vamos lá, sô. 'Cê vai ver a diferença que é.

E assim fui para o trabalho, com a boca seca para tomar minha caipirinha do dia.

18 de mar. de 2016

Mandamentos de boa postura da internet

Sempre vemos por aí uma internet recheada de desinformação e ruídos. Principalmente em épocas de assuntos polêmicos, pessoas vociferam opiniões às vezes infundadas e impensadas rede afora, e isso pode ser perigoso, já que aquele argumento errôneo pode influenciar outros a cometerem o mesmo fatídico fracasso.

Portanto, segue alguns toques de boa convivência virtual, como forma a ajudar a todos a terem um lazer internético mais divertido e saudável:

1. Sempre pesquisarás

Antes de sair comentando qualquer coisa por aí, tenha certeza de que você sabe o mínimo suficiente daquele assunto. Isso ajuda a manter o debate saudável e, ao mesmo tempo, permite que você discuta de maneira inteligente com outras pessoas.

2. Lerás o outro lado

Mesmo que você tenha uma posição contrária a uma linha política, religiosa ou social, se informar de assuntos que você é contra a respeito ajuda a embasar seus argumentos e evitar ser pego de surpresa por questionamentos do outro lado. Não entenda como uma guerra, mas o atrito gerado por um bom debate tende a ser positivo até para aqueles que somente estão acompanhando-o, sem opinar em nada.

3. Não terás preguiça

Um erro gravíssimo é tentar nos informar apenas pelo título de alguma coisa. Manchetes podem ser extremamente tendenciosas e não demonstram desdobramentos que o texto completo possui — ou pelo menos deveria possuir. Deixe a preguiça de lado e se informe corretamente!

3. A teu ego dominarás

Fato: é mais comum do que pensamos a nossa falta de capacidade em aceitarmos que estamos errados ou, no mínimo, equivocados quando em uma discussão e, dessa forma, evitarmos receber qualquer crítica. Não faça isso. Aceite que o argumento do outro foi melhor naquele momento, e estude de forma a refutá-lo posteriormente com coesão e maturidade. Ninguém gosta de pirraça, e maus perdedores não são levados a sério em lugar algum.

4. Mentiras não serão semeadas

Cuidado ao sair compartilhando qualquer coisa só porque está na internet. Existem várias notícias falsas que são publicadas em sites duvidosos somente para fazer com que os mais desatentos cliquem nelas e gerar visualizações e monetização. Até mesmo grandes veículos de comunicação às vezes publicam textos equivocados ou tendenciosos.

Na dúvida, não publique.

5. Desconfiarás de cada ponto

Não é para ser paranoico, mas mesmo o mais idôneo meio de comunicação já cometeu gafes graves. Sempre leia fontes diferentes, e tente refletir por si só sobre o que leu. Dessa forma você cria independência e com o tempo, conseguirá filtrar melhor todas as minúcias escondidas dentro das mensagens.

6. Nunca comentará falácias

Não é necessário discutir muito sobre isso, melhor ver na prática: acesse o link www.papodehomem.com.br/falacias-logicas/ e leia a respeito. Aposto que você mesmo se surpreenderá do tanto de coisas falaciosas que executa durante suas discussões e não havia reparado.

7. Não alimentarás o troll

Trolls sempre vão existir e em vários casos, apenas são aqueles que desvirtuam toda uma boa discussão. Não caia nessa. Evite-os ou faça-os cair em seu próprio jogo.

8. Serás educado

Muitas vezes alguém perde a cabeça (principalmente em função do Quarto Mandamento) e começa a esbravejar xingamentos homofóbicos, xenofóbicos, sexistas... Cuidado para não entrar nisso. Mostre que você não precisa se rebaixar nesse ponto para levar a discussão adiante; não há necessidade de continuar um assunto quando alguém quer evitar qualquer diálogo coerente.


9. Cuidado com o que escreverás

Naturalmente, tudo aquilo que você escreve e publica pode ser interpretado de várias maneiras, de acordo com aquele que lê. Por isso, todo cuidado é pouco: muita dor de cabeça pode ser evitada se você ler e reler algo antes de confirmar o compartilhamento. Uma vez que a mensagem foi para a internet, você não tem ideia nenhuma de onde aquilo pode – e como – vai chegar.


10. Terás postura

Se publicar alguma coisa e se arrepender depois, aceite. Assuma que você se equivocou, mas hoje pensa diferente e que aquilo poderia ter sido reescrito de outra forma ou simplesmente não ter sido postado. Ser honesto é uma das maiores características impessoais do ser humano, e você estará sendo tanto consigo mesmo quanto para a comunidade virtual. Todos saem ganhando!