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28 de abr. de 2017

A vida definitivamente imita a arte

Qualquer semelhança com o momento atual é mera coincidência.

Por mais formigas que não se calam nem se aquietam!


14 de abr. de 2017

[Review] Kimi No Na Wa (Your Name)

** Atenção: o texto a seguir pode conter alguns spoilers **


A lenda do fio vermelho (Akai Ito) é de origem chinesa, onde diz que o Deus, encarregado desse fio, invisível para os humanos, amarram nos tornozelos dos homens e mulheres esse fio logo quando nascem. Segundo a lenda, as pessoas conectadas são suas "almas gêmeas" uma da outra, sendo assim, estão destinadas a passarem o resto de suas vidas uma com as outras, não importa o que aconteça. Também segundo a crença, quanto mais longe e mais nós esse fio tiver, mais as pessoas conectadas a ele estão tendo problemas e estão tristes, e quanto mais curto, mais felizes elas estão. (Fonte)
Desde o fim do ano passado eu escutei muito murmurinho sobre esta animação. Volta e meia aparecia algo sobre ela no meu Facebook, e então, aproveitando o feriado, chutei o balde e resolvi separar algumas horas para assisti-la. E não poderia ter sido mais feliz nesta decisão!

Your Name traz uma animação impecável, enredo simples mas com várias nuances e fatos surpreendentes e personagens muito cativantes. Mesmo o elemento sobrenatural presente na obra é sutil e explica de forma até supérflua, o que definitivamente não achei ruim, embora dê pano-pra-manga para talvez uma outra animação. O trabalho de Makoto Shinkai é um feliz presente em uma época que tenho visto roteiros e animações relativamente fracas, e me surpreende muito o filme sequer ter sido indicado ao Oscar já que tem tido uma aceitação absurda (foi o filme mais visto na semana de estréia no Japão).

Basicamente, o enredo gira em torno de dois jovens, que misteriosamente trocam de corpos durante a aproximação de um cometa próximo da Terra, algo que acontece só de mil em mil anos. A garota, Mitsuha Miyamizu, mora com a avó e a irmã em uma cidade minúscula e rural no Japão, tem um pai distante e sonha em ir para Tóquio. Já o rapaz, Taki Tachibana, é relativamente popular, pró ativo e trabalha em um restaurante italiano, onde também atua uma colega de trabalho cuja qual ele nutre um sentimento amoroso.

Preste atenção nas cenas do choro sem aparente razão dos personagens,
Quando percebem que há algo acontecendo e se dão conta que de fato um está no corpo do outro em dias alternados, decidem então deixar dicas entre para que saibam o que aconteceu quando eles interagem com amigos e parentes, que notam as diferenças quando trocaram de físico. A animação possui cenas engraçadas por conta disso, e ao contrário da corrente ocidental tradicional em querer jogar para o expectador rapidamente a trama e ação, a obra é bela justamente por dedicar boa parte do tempo mostrando cenários e particularidades que imergem a quem assiste no contexto. Aliás, este tipo de ação, de não ter relativa pressa e focar no ambiente em volta da história, é uma característica consagrada japonesa.



O filme é muito bonito em demonstrar as relações entre os personagens e o drama envolvido, principalmente na segunda metade. Fiquei muito surpreso com o rumo cujo qual as coisas foram tomando, coisa que só havia sentido já há bastante tempo, quando joguei e zerei To The Moon (se você gosta de RPG's, jogue. Se não gosta, jogue também! Quatro ou cinco horas são suficientes para terminar e aproveitar este sensacional game).

A trilha sonora é sensacional, combinando perfeitamente com cada parte do filme. A animação é impecável (embora eu tenha visto uma versão alternativa, que claramente mostra alguns defeitos), muito bonita e colorida (sem exageros), e os cenários... Ah, os cenários! É cada um melhor que o outro, uma verdadeira pintura principalmente nas partes rurais (mas Tóquio também ficou muito bem representada).


Eu não vou me prolongar demais, senão certamente eu já começo a falar coisa que não devo. Mas mesmo se você não seja lá fã de anime, assista, recomendo. É um filme muito bonito, muito humano até, inocente talvez, mas uma premissa totalmente original bem-vinda, ainda mais em tempos onde o mundo anda tão maluco e violento (naturalmente não vai ser este filme que vai mudar o destino de ninguém, mas não deixa de ser um respiro positivo no meio de tanta coisa.

Deixo a seguir umas artworks da animação:







7 de abr. de 2017

A Culpa

Nesta semana, passei por três situações "corriqueiras" (no sentido que elas se repetem diariamente):
  1. Durante uma reunião de negócios, um amigo meu disse que dentre várias coisas, o "feminismo é responsável por deixar o mundo meio do jeito que tá aí: confuso, quebrado e cheio de confusão";
  2. Recebi via WhatsApp um vazamento de uma moça, muito bela por sinal. Junto, vinha o post que ela fez na página pessoal do Facebook dela justificando o ato, além de vários outros dados pessoais;
  3. Durante uma aula na faculdade, um professor foi infeliz em dizer que "as mulheres têm culpa em certos comportamentos machistas se perpetuarem dentro de casa" (ok, isso não é lá tão mentira assim, mas o problema é que o enfoque e o tom de culpa introjetada dele foi um prato cheio para qualquer um que deseje qualquer coisa para atacar o feminismo).
De todos estes pontos, só ficou uma certeza:
Em todas elas, eu foi um covarde e me calei. Em nenhum momento eu retruquei, questionei, indaguei, porra nenhuma.
E enquanto isso, nesta mesma semana, uma idosa de 73 anos foi estuprada, um ator global se envolve em uma polêmica de assédio (e gera comentários terríveis de outros atores que tentam "minimizar" o ato) e um famoso cantor também foi pego por câmeras de vigilância mostrando que agrediu a mulher.

Independentemente do grau, fica claro uma coisa:
Meu silêncio mata, agride e lesa tanto quanto aquele que executa na prática.

***

Texto recomendado: toda relação homem-mulher é assimétrica.