Postagens

19 de dez. de 2014

Cinco coisas que os (velhos) jogos de videogames me ensinaram para a vida adulta

Fato: seja numa mesa de bar, na casa de alguém ou perambulando na rua, basta alguém comentar de algum jogo antigo que uma enxurrada de opiniões começam a pipocar de todos os lados. E foi pensando nisso, já que sempre presencio este tipo de assunto, que me veio em mente de escrever como eu acho que os jogos das gerações antigas foram muito mais benéficos para mim que os atuais - sem qualquer tipo de menosprezo, claro, até porque, muita coisa de hoje eu não joguei.

1. Aprender a se virar sem instruções de qualquer tipo

Pegue a maioria dos jogos de SNES, Mega Drive, Master System ou PSX: quais deles tinham algum tipo de tutorial lhe explicando alguma coisa, qualquer coisa, desde os comandos mais básicos aos mais complexos?

Certo, certo. Há sim alguns jogos que lhe oferecem algum tipo de instrução elementar, mas na maioria das vezes, bastava colocar o jogo no videogame, esperar carregar, apertar Start e mandar ver; mesmo aqueles que tinham algum meio de ensiná-lo a jogar também não era necessariamente simples. Em poucos minutos, você já se via em meio a tiroteios frenéticos ou aventuras cabulosas e terrivelmente difíceis.

Era uma época que sem Internet, ou você conseguia ajuda com alguém que já passou por aquela parte do jogo que você está agarrado ou conseguia uma revista lhe descrevendo passo-a-passo o que fazer (os famosos detonados). Ou seja: você se virava.

E sem discussão.

O vídeo abaixo é um dos meus preferidos. É grandinho, mas mostra exatamente o ponto da coisa usando a série Mega Man como exemplo:


Quantas vezes você já zerou um jogo e descobriu só mais tarde que havia um comando ou habilidade que, se soubesse na época, facilitaria (e muito) sua jornada? Assim também não funciona rotineiramente no trabalho, no social, na família, no ato de aproveitar oportunidades que surgem do nada?

E foi assim que aprendi a levar a mecânica gamer old school para minha vida adulta: as pessoas vivem te ensinando as coisas - muitas vezes de forma errada - e você só de fato aprenderá o que e como fazer na prática, no calor do momento. Não é culpa delas (sempre), mas não necessariamente o que elas fizeram que deu certo também dará para mim. Sem muita conversinha: ou aprende e se adapta ao contexto ou fica para trás, o que nos leva ao ponto de que...

2. Tudo é uma dificuldade constante

Muitos jogos antigos não tinham sequer opção de escolher alguma dificuldade. Às vezes, no máximo, você ia nas opções do jogo e aumentava suas vidas por lá e só, o que nunca garantia necessariamente que você sequer chegaria ao final: quem jogou R-Type ou Darius, aqueles joguinhos de nave de scroll lareral sabe bem o que estou dizendo.

Darius Twin: joguinho porreta de difícil já na primeira fase

Não que os jogos atuais sejam fáceis, mas naquela época, até por limitação técnica, muitos segredos e a própria habilidade do jogador influenciavam em muito para que ele chegasse ao fim de um game. Era preciso reflexos rápidos, atenção e muita perspicácia para perceber aqueles píxels levemente de cor diferentes ali estão indicando uma parede oculta. Pegue Mega Man 1 e 2 de NES (quando ele nem carregava o tiro) ou Crash Bandicoot de PSX (para conseguir todas as gemas) por exemplo.

Contra III: como descabelar um jogador de tanta raiva

Sem save states de emulador, no máximo alguns continues. E a tela de Game Over era muito, muito frequente de se ver.

Não muito diferente, se for pensar, do meu dia a dia. Claro que eu sempre tento arrumar um jeito de fazer as coisas da forma mais simples possível, mas como quase nada depende da gente, não adianta "xingar os controles ruins": ou você se vira com aquilo que tem, ou pode desistir para que outro jogador entre no seu lugar.

É aquele caso: apesar de tudo ir contra, não vou saber como o jogo termina se não continuar, mesmo aos poucos, avançando pelas fases. E assim funciona na vida em si.

Mas a dificuldade de tudo é agravada ainda mais porque, no meu trabalho rotineiramente os...

3. Recursos são escassos

Até hoje eu tenho a mania de enquanto estar jogando alguma coisa, economizar o máximo de recursos possíveis, mão-de-vaca mesmo. Aprender a gerenciar e tomar decisões dentro de um cenário de jogo é muito importante, tanto para poder evitar um problema quanto para sanar os danos dele caso irremediavelmente ele aconteça. Pegue Sim City, com as catástrofes que acontecerão em sua cidade lindamente construída e você tem exatamente o quanto é importante se preparar para momentos de necessidade.

Não é a toa que os gamers são geralmente bem sucedidos por conta de suas habilidades dentro de um cenário empreendedor.

Quem jogou os jogos mais antigos da série Resident Evil ou Silent Hill sabe como é importante saber carregar itens certos na hora certa.


Starcraft, Warcraft, Age of Empires, Command & Conquer... Jogos de estratégia militar que também utilizam gerência de recursos e rápida ação do jogador antes que seja dominado pelo exército rival. Top Gear eu sempre pegava o carro branco porque ele consumia menos, e ainda me lembro das melhores pistas que ele não precisa parar para abastecer.

Saber gerenciar alguma coisa - talento de pessoas ou suprimentos de qualquer tipo - é imprescindível na vida de qualquer pessoa que tem fontes de recurso restritas. Em geral, meus amigos e eu não ganhamos relativamente bem para nos sustentar e depender minimamente possível de nossos pais, mas ainda assim temos que pensar duas vezes antes de gastar a mais em um determinado mês para não sobrecarregar os outros. No trabalho, no meu especificamente, normalmente as ideias que os clientes tem para criação de materiais gráficos não casam com orçamento que eles dispõem. Há quem trabalhe com muitas pessoas, que precisa ainda organizar os respectivos talentos e egos para que a equipe dê resultado. Tudo que, por fim, está ligado a atitude de...

4. Valorizar relações

Pegue os excelentes RPG's antigos: Final Fantasy (até o X de PS2), Dragon Quest, Chrono Trigger/Cross, Legend of Dragoon, Terranigma, Grandia... Se puder jogar algum deles, perceba a interação que existe entre os personagens.

Pegue meu preferido, Final Fantasy III (o VI no Japão). Veja os objetos de cada personagem, a relação de amizade e amor, a importância da família e dos amigos em momentos de crise, e você terá, mesmo dentro daqueles pixels simples, um valor pelo humano tão grande que você se sentirá falta daquilo no seu dia a dia. Quem não jogou ainda sugiro jogar e descobrir a missão de Locke, a relação de Shadow, Relm e Stragos, a decisão de Sabin em abrir mão de ser príncipe enquanto seu irmão Edgar teve que assumir o trono, a cena triste da tomada do castelo do cavaleiro Cyan...

Celes na cena da Opera House. Veja a cena completa aqui

São jogos que muito além de serem simplesmente jogos, mostrava relações crescentes do decorrer do jogo - assim como as nossas, na vida real, com as pessoas que conhecemos e depois nos tornamos amigos. Todo um curso em prol de um bem maior somente é necessário quando todos abraçam a causa, já que...

5. Quando bem feitas, ideias se tornam inspirações para outras que surgirão posteriormente

Se você acha que jogos antigos são sinônimos de coisas ultrapassadas, basta olhar essa lista aqui, aqui ou aqui e ver a quantidade de jogos da velha guarda existem nelas. Claro que listas são muito parciais, mas as coincidências

Coisas bem feitas duram. Tem valor, são respeitadas e tem seu lugar garantido dentro do seu contexto.

Nos videogames não poderia ser diferente, claro. Perceba que até hoje, mesmo com tanta evolução gráfica, boa parte dos times de programadores tem sua inspiração baseada em pérolas de dez, vinte anos atrás.

Pense rápido: você é capaz de dizer ou o nome do personagem ou do jogo que ele participa?

Selecione o texto entre as aspas para saber quem é este personagem: "Nathan Drake, da série Uncharted"

Mas certamente, mesmo que você não seja um gamer, quase saberá o nome deste aqui:

Selecione o texto entre as aspas para saber quem é este personagem: "Ryu, de Street Fighter"

Bônus: o poder da interação social

Só como adendo, ao contrário dos jogos de hoje, antigamente era necessário que dois ou mais jogadores estivem ali, ao vivo e a cores, para jogarem juntos. A zoação, diversão e a o valor disso naturalmente é uma coisa que Internet alguma pode oferecer.

Até hoje, meus amigos, minha namorada e eu nos encontramos para jogar alguma coisa - e quase sempre, acabamos por estar jogando alguma coisa antiga, mesmo com nossos poderosos consoles de última geração.

Os melhores jogos de XBOX por exemplo são aqueles que usam o Kinetic, e mesmo assim, grande parte deles só quando se tem alguém para jogar junto.

E em um mercado competitivo como hoje, saber respeitar diferenças mas também ter habilidade em interagir ao


***
Games não são simplesmente entretenimento eletrônico - não somente na essência. São poderosas formas de desenvolvimento para crianças e adolescentes e até salvam vidas (aqui, aqui ou aqui). E eu sou muito feliz por ter tido a oportunidade de pegar essa geração antiga e entender que hoje, ter muita coisa que eu tenho, foi graças aos videogames lá da minha adolescência que auxiliaram este processo.

E vamos jogar, galera!

12 de dez. de 2014

Os coxinhas que não sabem ser coxinhas

Eu já estava com um texto quase pronto sobre o PirateBay para postar, mas meu amigo que se mudou para São Paulo recentemente me mandou esse pequeno documentário que ele fez das manifestações contra o PT lá, no último dia 6.

Mas em vez de escrever qualquer coisa, deixo aqui o vídeo, que fala por si só. Menos de cinco minutinhos.

Assista atentamente:



Destaco:
  • Não temos nenhum partido de direita no Brasil, todos são de esquerda;
  • Este movimento é espontâneo e apartidário [segue imagem do Serra];
  • FHC é mais comunista que o Lula [?].
Acho que nem preciso comentar sobre, confere?

***
Apenas para facilitar a consulta sobre alguns termos:
***
Independente de qualquer coisa, friso minha posição quase que apolítica não por querer em ficar em cima da do muro, mas porque na verdade enxergo a maracutaia de partidos brasileiros que no fim, são tudo farinha do mesmo saco - que nação precisa de mais de trinta partidos políticos, minha gente?. Mas isso também fica para outro post.

E não deixem de inscrever no canal do meu bróder!

5 de dez. de 2014

No lixo

Jonas certamente estava na pior. De todas as brigas que se metera, esta sem dúvida foi a mais grave. Largado na sarjeta perto da sua casa, sentia as costelas doendo e tinha um grave corte na testa, que sangrava até o olho esquerdo lhe tirando toda a visão deste lado.  Tentou por duas ou três vezes se apoiar nas paredes imundas para ficar de pé, e quando finalmente conseguiu, sentiu dores na sua genitália. Não queria se lembrar do que aconteceu, embora invariavelmente recordasse cada frame.

Uma das últimas coisas que ainda poderia chamar de sua - seu próprio corpo -, já não lhe pertencia mais.

Tinha vontade de chorar e não podia. Quem ia acreditar na sua versão? Bem, um ou outro amigo ia dizer para que tomasse uma providência ou procurasse a polícia, mas no fim das contas, terminaria tudo do mesmo jeito. E pior: ao chegar em casa apanharia de novo, ou na melhor das hipóteses, sofreria uma agressão surpresa quando fosse trabalhar ou estudar, quando achasse que já estava se esquecendo de tudo que passara e as coisas voltando aos eixos.

O rapaz tinha medo de tomar uma decisão sobre o que fazer. Na verdade, ele nem se lembra de quando foi a última vez que pudera tomar uma por si só: era sempre julgado, sempre qualificado moralmente pelos mais fúteis motivos. O relacionamento em que estava no momento foi o pior deles nesse ponto, porque não fazia nada, nada mesmo, sem o consentimento do outro lado.

A violência sempre fora uma constante em sua vida. Quando pequeno, era obrigado a se portar de acordo com o que queriam, e cresceu com várias dúvidas sobre si mesmo, sem que tivesse confiança sequer em procurar saná-las. Foi na internet que conseguiu algumas respostas, mas já era meio tarde: viu que amigos e colegas se portavam diferente do jeito dele e às vezes eram até mais livres, embora sofressem também uma carga de repreensão explícita e eram vistos como escandalosos pelas outras pessoas.

Jonas às vezes até tenta lutar contra isso tudo, mas nada dura mais que alguns dias. Até porque tudo que ele sofre não é só dentro de casa: é normalmente menosprezado no trabalho, no trânsito e até quando precisa pegar um metrô ou um ônibus.

As pessoas pensam que violência é dar um tapa na cara, um tiro, assaltar, sei lá. Mas no fim das contas, violência é você deixar de ser si mesmo, certo? Ou então, deixar de contar para aquele carinha que ele lhe deu troco a mais, ou furar uma fila, ou ainda ficar com um produto que chegou em sua casa por engano...

Mas fazer o quê, era um trapo humano, com o orgulho em frangalhos e a humilhação marcada na pele. O resto é resto: é se arrastar até em casa e torcer para que amanhã as dores estejam menos latejantes para poder ir trabalhar amanhã.

A vontade de chorar ainda não passara.


- Demorou, Jonas - ouve-se o som de uma lata de cerveja sendo aberta.

O som da TV quebra o silêncio do local.

- Desculpa meu bem, estive...estive m-me recompondo.
- Será que não foi encontrar alguma colega sua?
- C-claro que não... Você está com meu celular inclusive...
- E quem garante que você não pode fazer nada sem celular?
- M-mas eu juro, não fiz nada... E-estava onde você me... Me deixou agora a pouco.
- Você está horrível. Vá lavar essa cara e se arrumar.
- T-tá bom.
- Você é meu namorado, e deve se portar como tal. O que os outros vão pensar de você se ficarem vendo conversando com outra mulher à noite por aí?
- N-não vão gostar...
- Certamente, e eu menos. Meu bem... Você sabe que eu te amo e me preocupo com você... Às vezes passo dos limites, admito... Mas é para o seu bem.
- Sim, eu sei...
- Pois é. Desculpa por ter agido assim... E ter lhe acertado tão forte.
- T-tudo bem.

O rapaz sobe e vai até o quarto, de olhos marejados. Olhando-se no espelho do banheiro, ele vê seus machucados e entende que é fadado a viver assim. Se sente um lixo total, mas alguma coisa lhe faz ir pra frente. Talvez, Deus...

- É a mulher que eu amo... Eu acho. E como ela mesmo disse, se eu largá-la não vou encontrar mais ninguém...


***
Achou um pouco estranho esse texto? Veja só: de acordo com um estudo que saiu essa semana, 68% dos jovens brasileiros de idade entre 16 e 24 anos acreditam que mulheres não deveriam ir para a cama no primeiro encontro, 76% criticam o fato delas terem vários ficantes, 48% acham errado dela sair sem a companhia do namorado ou ficante, sem contar a grande parcela delas que tiveram de desfazer amizade ou tiveram sua privacidade violada por conta de um namorado ou ficante.

Ou seja: a pesquisa mostra que o jovem brasileiro reconhece que o machismo existe, mas ele pouco ou nada faz para combatê-lo. E pior, se acha no direito de tomar para si a liberdade do outro, mais especificamente, da mulher. Ciúmes? Antes fosse...

E ainda tive que acompanhar nesses dias,
Em pleno 2015.

Não, não sou um militante feminista, nunca fui. Na verdade, na minha opinião, a grande maioria dos movimentos feministas hoje estão completamente descaracterizados, lutando por coisas que mais parecem com caprichos pessoais do que de fato uma busca pela igualdade de gênero e gerando coitadismo. São necessários? Claro, mas gerar incômodo colocando crucifixos na vagina e quebrando imagens sacras por exemplo não ajudam em nada a validar a integridade da causa. Mas isso é assunto para outro post.

Mas sou militante do respeito independente de gênero, orientação sexual ou qualquer coisa que preze a liberdade do outro. Milito pelo direito da minha mãe, minha irmã, minha namorada, minhas amigas, enfim, das meninas e mulheres poderem andar na rua sem terem que temer se serão atacadas verbal ou fisicamente, sem serem julgadas por um short ou vestido ("mas você está pedindo!") ou mal faladas simplesmente por terem gostos diferenciados da maioria.

E não escrevo isso tudo direcionando a homens: também quero que as próprias mulheres que ao mesmo tempo são vítimas e algozes dessas afirmações infelizes, dentre muitas outras, entendam que possam ser livres de dogmas e passem a ser capazes de agir do jeito que melhor lhes convier.

Não adianta descobrirmos a cura da AIDS se a gente julga nossa vizinha solteira porque ela gosta de sair e ficar com vários caras, enquanto quando um homem faz o mesmo ninguém não está nem aí. Também faz pouca diferença irmos ao espaço se a roupa que alguém usa continua definindo o que ela é - mesmo sem conhecer sua usuária. O problema mundial com as drogas me parece peixe pequeno quando uma mulher desperta ojeriza simplesmente por ter uma vida sexual livre.

Tem horas, que sinceramente, acho que a doença do mundo realmente somos nós mesmos.