Todos que foram ao enterro já tinham ido embora; haviam muitos rostos conhecidos, e outros nem tanto, e aqueles nada reconhecíveis. O entardecer trazia junto da sombra um vento frio, mostrando que o inverno ainda não terminara.
— Por que ainda choras, rapaz? — uma voz estranha, quase cadavérica, surgiu próximo do garoto. Assustado, ele olha e vê um cidadão de meia-idade, trajando roupas finas, embora um pouco fora de moda, talvez. Tinha barba muito bem feita e cavanhaque pontudo, um bigote peculiar, cabelo e olhos negros feito carvão e um ar de ironia. O homem toca de leve o ombro do rapaz.
Cemetery Sundown |
— Porque perdi um parente muito querido. Todos ficam tristes quando perdem algo que gostam muito.
— Ora, isso não ser novidade para ninguém — fala pacificamente o estranho, enquanto massageia os pelos do cavanhaque. — No entanto, sabes que a morte ser inevitável, então por que insistes em chorar?
O garoto fica maus confuso ainda, Quem diabos é esse cara que acaba de chegar e fica com esse papo agora? Não saberia ele respeitar o momento de dor alheia?
— Olha meu senhor, lidar com perdas é muito complicado. Estou em um momento difícil, e o senhor parece querer caçoar de mim... Respeite minha dor, por favor.
— Meu rapaz, não precisar ficar assim. Apenas acho engraçado vocês, que comemoram o nascer das coisas e se entristecem com desfazer delas, como se fossem absolutas. Tudo vem e vai. Não ser nada separado uma da outra; ambas fazer parte de um longo... processo.
— Quem é o senhor, para vir aqui me dizer isto? Conhecia meu parente?
O garoto estranha muito a fala do senhorio. É um pouco confusa, errada, com graves erros de concordância, mas passa uma firmeza sem igual. O estranho homem olha diretamente nos olhos do rapaz, solta um leve sorriso de canto de rosto e diz:
— Eu conhecer seu parente, você, os que já se foram e os que virão, jovem. Eu vir aqui lembrar você de aproveitar o tempo que lhe resta, igualando o que se foi com que ainda fica. Vós perdestes muito de sua energia dedicando a coisas ruins e lembrar de coisas que já se foram, que não há nada mais o que fazer... Memórias ser coisas boas, mas podem lhe atrasar, ofuscar os olhos em virtude de tudo que a vida proporciona graças a uma finada sensação que tu insistes em ressuscitar.
Lauren Hill Cemetery |
Assustado, o garoto olha para o túmulo do parente finado. Ao voltar o olhar, não vê mais ninguém. Teria sonhado? Não... Claramente não. Era real: o toque, a fala errada, o cheiro do tal homem... Não foi um alerta, e sim um conselho; e por mais misterioso que fora o encontro, o rapaz nãos sente medo.
Ele se levanta, limpa seus joelhos e desce pelo caminho entre covas abertas, jazigos e túmulos. A noite quase que chegara completamente. Mas pensando, na verdade, o raiar de tudo apenas começara a despontar.
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