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29 de nov. de 2014

Obrigado, Bolaños!

Eu até ia escrever outra coisa, mas não teve jeito: Chespirito tem o seu lugar. Pode parecer um trocadilho nefasto, mas a realidade é que hoje, 28/11/2014, será marcada para sempre como uma Black Friday triste.

Isso isso isso isso!

Há quase uma semana estava meus amigos e eu conversando sobre coisas da nossa infância. Programas, desenhos, games, tudo aquilo que na época marcou a gente de alguma forma que até hoje tem um lugar especial ali no cantinho da nossa maturidade, da juventude que tivemos que abrir mão para trabalhar, ter nosso dinheiro e nossas coisas, enfim, responsabilidades "de adulto". E sempre sai Chapolin ou Chaves no assunto.

Mas ainda lutamos para manter um pedacinho da nossa juventude intacta, e o tanto que é importante ter essa coisa dentro da gente. E assistir os episódios é uma viagem no tempo total, para uma época que a obrigação nossa era simplesmente estudar e comer. Só.

E agora entendi o por quê do dia todo chuvoso...

Mas que inferno, caiu um cisco horrendo no meu olho por conta dessa imagem :(

Foram poucas as situações que estive tão feels por conta da perda de alguma celebridade. Sei lá, Bolaños e sua equipe são mais que isso, acho, marcaram uma geração inteira sem precisar de conotação sexual alguma, nenhum tipo de apelação genérica enlatada qualquer. Sem forçar a barra de nada, sendo despretensioso, simplório, à beira do cru, se quer saber.

Aquilo que a gente na verdade deveria ser, mas acaba nunca sendo.


É gostoso de assistir, de ver aquela coisa tão esdrúxula ser tão fantástica, magnética. Acho que por isso é tão bom: é honesto, direto ao ponto, toca naquela inocência que só depois de tantos anos a gente entende e dá valor - agora, quando praticamente pouco podemos fazer para manter o que ainda nos resta de ingenuidade e leveza.

Risadas de criança. Lágrimas saudosistas também.

Coisa de criança sabe?


Chespirito, obrigado.

Chapolin, obrigado.

E muitos outros personagens menores, mas não menos importantes, obrigado.

Vocês não têm noção do tanto que até hoje são importantes para minha geração - e ainda serão por muitas outras.

Que os deuses da (verdadeira) comédia agora se divirtam com o show ao vivo que dará para eles, Bolaños, porque aqui conosco você foi o cara.

Mas e agora: quem poderá defender?


21 de nov. de 2014

Pecados

Samuel, 27 anos, nasceu em berço de ouro. Filho de pais abastados, teve tudo na vida, menos um pai e uma mãe. Gosta de se mostrar superior, em especial contra aqueles que vêm de família organizada e estruturada, que tem amor e recebem carinho em casa. Estupra constantemente sua empregada, Patrícia, adora cuspir na cara dos outros internos na sua casa e na rua se acha o senhorio dominante. Eu posso.
Recentemente comprou um revólver calibre 38, mas ainda não decidiu em que ordem vai usá-lo: se é em si, nos outros ou nos outros e depois em si.

***

Patrícia, 18, possui o rosto bonito mas mal cuidado, marcado pela constante violência que sofre de Samuel. Calada, precisa trabalhar e sustentar seus dois irmãos mais novos e sua mãe, Dona Nina, viciada. Mora na periferia, precisa pegar três conduções para chegar na casa dos patrões, mas acredita que Deus tem planos melhores para si no futuro. "Ele sabe o que faz".
Tem medo de sair deste emprego ("emprego") e não conseguir nada melhor.
Mal sabe escrever, mas isso não é necessário quando se tem uma pia suja para lavar e uma mansão cheia de coisas que nem sabe para que servem com poeira a tirar.

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Dona Nina, 46, uma mãe-exemplo de como não ser uma mãe. Viciada, passa o dia inteiro em casa vendo TV e sussurrando a si mesma porque Patrícia é tão mole a ponto de não lhe dar mais dinheiro. Empurra seus dois garotos mais novos a vender balas e "balas", doces e "doces", para Tinho, chefe dos protetores marginais da comunidade onde vive.
Rodeada por um barraco caindo aos pedaços mas com visão privilegiada para o bairro nobre alguns quilômetros a frente, sonha em suas viagens artificiais ser uma dondoca perua com motorista, pêrsonal treinê e tabret.
A realidade lhe enoja, e se um de seus filhos voltar com as mãos vazias para casa é castigo na certa. Mãe é pra isso.

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Tinho, 22, traficante de quinta que se acha o maioral da comunidade por possuir meia dúzia de moleques armados consigo. Violento, adora repetir a cena de Cidade de Deus, onde um bandido atira na mão (ou no pé, tanto faz) do rapazinho. Xaveca Patrícia e não vê a hora de casar com ela, mas prefere por hora as novinhas do bairro.
Tudo se resolve na bala. Possui um contato, David, na polícia, que já lhe salvou a pele de umas duas ou três operações de busca e apreensão.
Era para ter sido padre, mas Tinho não aguentava as brincadeiras e os estupros pelos outros seminaristas na época. Apanhava muito e morava com a avó, que não tinha como lhe dar atenção. Cada dor que causa ao outro é uma a menos pra si.

***

David, 39. Policial frustrado, um pouco covarde, que prefere atribuir a característica como proteção extra. Possui olhos fundos, uma esposa lhe esperando cada plantão em casa e dois filhos; na verdade um filho e uma"filha"; nasceu Lúcio, mas se tornou Dyanne na adolescência.
Repassa porções de drogas e armas apreendidas para a comunidade de Tinho e de mais algumas outras, esperando que bandido mate bandido. Está com o colesterol alto.
Delata operações policiais a bandidos em troca de grana. As contas de casa não querem saber de onde a grana vem.

***

Dyanne, 14, expulso/a de casa pelo pai ao revelar que era homossexual. A mãe até que tentou ajudar, mas o patriarca foi direto: VIADO AQUI NÃO, PORRA!
Entre programas e usos periódicos de drogas, acabou gostando da coisa. Possui rostinho novo, carne nova, atende muito boyzinho e gente da alta. Cresceu no negócio rápido: a maioria de outras/os garotas/os precisam ficar nas perigosas e escuras esquinas com microsaias e cantadas nojentas, clientes nojentos em carros nojentos.
Um amigo seu que recomendou que fizesse isso. Era assim ou ficar na rua. Sente até saudade de casa, mas admite que é dona/o de sua própria vida agora. Só espera não ficar doente e morrer cedo, isso não.
Parou de estudar cedo.
Pensa em parar com isso, mas por hora é bom demais, sexo e dinheiro todo o tempo. Melhor que ser espancado por um cliente que pelo pai.

***

Luis Carlos, 55, empresário. Dono de uma rede de hotelaria com mais de 40 filiais, é um magnata fantástico considerado nascido para o empreendedorismo. Cheio de si, faz questão ostentar seu brilhantismo ao lado de sua esposa e filho nos mais variados eventos que é convidado. Cobra 30 mil reais para dar palestras em cursos universitários a aspirantes, mas sabe que dali pouquíssimos serão de fato alguma coisa na vida.
Vota em partidos conservadores, é evangélico, vai no culto às quartas e sábados, paga o dízimo, mas secretamente acha os mendigos preguiçosos e nordestinos aproveitadores.
Cheguei aqui por mérito meu. Todo mundo pode ser assim se quiser.
Quintas às noites se encontra em total segredo com Dyanne, sendo totalmente passivo a ela. Gosta de jogar dinheiro na cama onde fazem sexo. Paga os hormônios para a garota e as consultas, mas não quer que ela mude de sexo. Vai em casa somente para almoçar e comer.
Não conversa direito mais com a esposa, que tem caso com outro cara. Foda-se. Separação não compensa, sai caro demais.
É pai de Samuel.

13 de nov. de 2014

Como uma bunda se tornou mais importante que o universo

Veja bem: uma sonda conseguiu esta semana a proeza sem precedentes de pousar em um cometa. Feito épico, com possibilidade de se estudar mais sobre a origem de toda a vida, envolvendo o investimento de no mínimo um bilhão de dólares e que, se tudo der certo, em algum tempo teremos a análise química da estrutura do corpo celeste fornecendo melhores dicas e possibilidades de estudo sobre o universo que nos cerca.

Imagem feita pela sonda Philae do cometa 67P/, captada na quarta
Mas pra grande maioria das outras pessoas, isso não faz diferença. Temos coisa melhor pra nos preocupar, tipo... uma bunda.


A repercussão das fotos da socialite Kim Kardashian essa semana foi estrondosa. Estrategicamente falando, foi um grande acerto da personalidade, que possui um marketing impecável a ponto de ganhar uma página dupla na Paper e mais de meio milhão de likes no Instagram. Fotos foram feitas milimetricamente estudadas para impactar e até este meu post vai fazer alguns prováveis leitores a procurar mais sobre a atriz - a crítica foi previamente planejada para dar força ao mito. Não é genial?

Tudo previamente preparado a ponto de fazer o pouso pioneiro se tornar... nada. E olha que fomos inclusive capazes de obter sons do tal cometa.

Break the Internet. Bingo.

Perdemos por uma bunda. O viral se tornou nádegas rentáveis minuciosamente arquitetadas para funcionar como se fossem um furor na web.

Não que esteja reclamando de uma bunda. Sinceramente, eu gosto muito de uma. Mas isso só mostrou o foco das pessoas, seu real interesse, o que cada um procura e dá valor quando se abre um navegador e digita um endereço qualquer - provavelmente a fim de bisbilhotar a vida do outro, invejar o sonho alheio como se fosse seu e viver uma infeliz falácia diária.

E a bunda ganha capas de jornais e milhares de cliques rentáveis.

O tal pouso? Uma notinha ali no canto.

Temos toda a possibilidade de mudar de fato tudo aquilo que acreditamos estar errado e sim, criar uma humanidade mais organizada, de forma a diminuir todos os erros primários que estamos cansados de ver todos os dias.

Mas nem preciso comentar onde nós sempre "preferimos tomar", não é mesmo?