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12 de nov. de 2012

Resenha "A Casa dos Budas Ditosos"

Choque.

Essa foi minha sensação ao ler este polêmico livro. Na verdade, ainda estou lendo, mas falta muito pouco que realmente não vai fazer diferença para contar sobre o contexto dele aqui.

A ideia de como o livro surgiu daria um bom filme: a editora queria que João Ubaldo Ribeiro escrevesse um material para uma série de livros que estava lançando, cada um deles voltados para um pecado capital. João escreveria sobre a Luxúria, quando, recebera em sua casa, um pacote com diversas fitas gravadas por uma mulher identificada apenas por iniciais.

O que as fitas revelavam, é um misto de assombro, um soco na cara mas, de certa forma, um toque humano profundo. A mulher conta toda sua vida de libertinagem sexual, variando desde sua iniciação no mundo da "perversão" ao seu amadurecimento. Suas orgias, orgasmos, opiniões femininas, tudo é descrito de forma informal mas intenso, longe de ser chulo.



Talvez, para mim, isso tenha sido o diferencial: quem escreveu era uma pessoa culta, conhecia vários artistas famosos, seus trabalhos, aparentemente uma pessoa bem letrada e de uma percepção sagaz - tudo relativamente diferente ao padrão de vagabunda que a sociedade impõe.

Vagabunda. Termo um tanto quanto pejorativo, mas nem sempre precisa ser encarado nessa forma - principalmente depois dessa leitura. O monólogo da autora deixa bem claro o que fazia, porque fazia, quando fazia, com quem fazia, o que tinha que fazer para alcançar aquilo que queria.

É interessante demais parar para refletir sobre alguns comentários pertinentes que a autora dos relatos faz. Questiona o modelo hipócrita da sociedade - da sua perversão ao mesmo tempo corrupção do sexo, do desejo, daquilo que homens e mulheres vieram ao mundo para fazer mas, por causa de leis estranhas e valores deturpados, as pessoas tem suas taras e fetiches reprimidas e taxadas como erradas. Por isso mesmo seu relato anônimo, pois imagina o que aconteceria com ela se soubessem de fato quem era?



A leitura é um tanto quanto erótica, chegando algumas vezes ao pornô, mas isso não é a intenção do relato. Pelo contrário: toda polêmica que surgiu com o lançamento do livro veio mesmo por intermédio do conflito da moral x carnal. A autoria de forma alguma mostra arrependimento do que fez: se vangloria até hoje de ensinar a jovens rapazes a arte da fornicação.

Até que ponto precisamos mesmo nos privar do sexo? Este é um assunto tão obscuro assim? Até que ponto  temos que privar taras e fantasias por regras e morais que estamos cansados de ver que não funcionam?

Nem vou me estender mais. É uma leitura curta e simples: vale muito a pena.

Link do PDF do livro.