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21 de nov. de 2014

Pecados

Samuel, 27 anos, nasceu em berço de ouro. Filho de pais abastados, teve tudo na vida, menos um pai e uma mãe. Gosta de se mostrar superior, em especial contra aqueles que vêm de família organizada e estruturada, que tem amor e recebem carinho em casa. Estupra constantemente sua empregada, Patrícia, adora cuspir na cara dos outros internos na sua casa e na rua se acha o senhorio dominante. Eu posso.
Recentemente comprou um revólver calibre 38, mas ainda não decidiu em que ordem vai usá-lo: se é em si, nos outros ou nos outros e depois em si.

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Patrícia, 18, possui o rosto bonito mas mal cuidado, marcado pela constante violência que sofre de Samuel. Calada, precisa trabalhar e sustentar seus dois irmãos mais novos e sua mãe, Dona Nina, viciada. Mora na periferia, precisa pegar três conduções para chegar na casa dos patrões, mas acredita que Deus tem planos melhores para si no futuro. "Ele sabe o que faz".
Tem medo de sair deste emprego ("emprego") e não conseguir nada melhor.
Mal sabe escrever, mas isso não é necessário quando se tem uma pia suja para lavar e uma mansão cheia de coisas que nem sabe para que servem com poeira a tirar.

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Dona Nina, 46, uma mãe-exemplo de como não ser uma mãe. Viciada, passa o dia inteiro em casa vendo TV e sussurrando a si mesma porque Patrícia é tão mole a ponto de não lhe dar mais dinheiro. Empurra seus dois garotos mais novos a vender balas e "balas", doces e "doces", para Tinho, chefe dos protetores marginais da comunidade onde vive.
Rodeada por um barraco caindo aos pedaços mas com visão privilegiada para o bairro nobre alguns quilômetros a frente, sonha em suas viagens artificiais ser uma dondoca perua com motorista, pêrsonal treinê e tabret.
A realidade lhe enoja, e se um de seus filhos voltar com as mãos vazias para casa é castigo na certa. Mãe é pra isso.

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Tinho, 22, traficante de quinta que se acha o maioral da comunidade por possuir meia dúzia de moleques armados consigo. Violento, adora repetir a cena de Cidade de Deus, onde um bandido atira na mão (ou no pé, tanto faz) do rapazinho. Xaveca Patrícia e não vê a hora de casar com ela, mas prefere por hora as novinhas do bairro.
Tudo se resolve na bala. Possui um contato, David, na polícia, que já lhe salvou a pele de umas duas ou três operações de busca e apreensão.
Era para ter sido padre, mas Tinho não aguentava as brincadeiras e os estupros pelos outros seminaristas na época. Apanhava muito e morava com a avó, que não tinha como lhe dar atenção. Cada dor que causa ao outro é uma a menos pra si.

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David, 39. Policial frustrado, um pouco covarde, que prefere atribuir a característica como proteção extra. Possui olhos fundos, uma esposa lhe esperando cada plantão em casa e dois filhos; na verdade um filho e uma"filha"; nasceu Lúcio, mas se tornou Dyanne na adolescência.
Repassa porções de drogas e armas apreendidas para a comunidade de Tinho e de mais algumas outras, esperando que bandido mate bandido. Está com o colesterol alto.
Delata operações policiais a bandidos em troca de grana. As contas de casa não querem saber de onde a grana vem.

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Dyanne, 14, expulso/a de casa pelo pai ao revelar que era homossexual. A mãe até que tentou ajudar, mas o patriarca foi direto: VIADO AQUI NÃO, PORRA!
Entre programas e usos periódicos de drogas, acabou gostando da coisa. Possui rostinho novo, carne nova, atende muito boyzinho e gente da alta. Cresceu no negócio rápido: a maioria de outras/os garotas/os precisam ficar nas perigosas e escuras esquinas com microsaias e cantadas nojentas, clientes nojentos em carros nojentos.
Um amigo seu que recomendou que fizesse isso. Era assim ou ficar na rua. Sente até saudade de casa, mas admite que é dona/o de sua própria vida agora. Só espera não ficar doente e morrer cedo, isso não.
Parou de estudar cedo.
Pensa em parar com isso, mas por hora é bom demais, sexo e dinheiro todo o tempo. Melhor que ser espancado por um cliente que pelo pai.

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Luis Carlos, 55, empresário. Dono de uma rede de hotelaria com mais de 40 filiais, é um magnata fantástico considerado nascido para o empreendedorismo. Cheio de si, faz questão ostentar seu brilhantismo ao lado de sua esposa e filho nos mais variados eventos que é convidado. Cobra 30 mil reais para dar palestras em cursos universitários a aspirantes, mas sabe que dali pouquíssimos serão de fato alguma coisa na vida.
Vota em partidos conservadores, é evangélico, vai no culto às quartas e sábados, paga o dízimo, mas secretamente acha os mendigos preguiçosos e nordestinos aproveitadores.
Cheguei aqui por mérito meu. Todo mundo pode ser assim se quiser.
Quintas às noites se encontra em total segredo com Dyanne, sendo totalmente passivo a ela. Gosta de jogar dinheiro na cama onde fazem sexo. Paga os hormônios para a garota e as consultas, mas não quer que ela mude de sexo. Vai em casa somente para almoçar e comer.
Não conversa direito mais com a esposa, que tem caso com outro cara. Foda-se. Separação não compensa, sai caro demais.
É pai de Samuel.

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