Essa foi minha sensação ao ler este polêmico livro. Na verdade, ainda estou lendo, mas falta muito pouco que realmente não vai fazer diferença para contar sobre o contexto dele aqui.
A ideia de como o livro surgiu daria um bom filme: a editora queria que João Ubaldo Ribeiro escrevesse um material para uma série de livros que estava lançando, cada um deles voltados para um pecado capital. João escreveria sobre a Luxúria, quando, recebera em sua casa, um pacote com diversas fitas gravadas por uma mulher identificada apenas por iniciais.
O que as fitas revelavam, é um misto de assombro, um soco na cara mas, de certa forma, um toque humano profundo. A mulher conta toda sua vida de libertinagem sexual, variando desde sua iniciação no mundo da "perversão" ao seu amadurecimento. Suas orgias, orgasmos, opiniões femininas, tudo é descrito de forma informal mas intenso, longe de ser chulo.
Talvez, para mim, isso tenha sido o diferencial: quem escreveu era uma pessoa culta, conhecia vários artistas famosos, seus trabalhos, aparentemente uma pessoa bem letrada e de uma percepção sagaz - tudo relativamente diferente ao padrão de vagabunda que a sociedade impõe.
Vagabunda. Termo um tanto quanto pejorativo, mas nem sempre precisa ser encarado nessa forma - principalmente depois dessa leitura. O monólogo da autora deixa bem claro o que fazia, porque fazia, quando fazia, com quem fazia, o que tinha que fazer para alcançar aquilo que queria.
É interessante demais parar para refletir sobre alguns comentários pertinentes que a autora dos relatos faz. Questiona o modelo hipócrita da sociedade - da sua perversão ao mesmo tempo corrupção do sexo, do desejo, daquilo que homens e mulheres vieram ao mundo para fazer mas, por causa de leis estranhas e valores deturpados, as pessoas tem suas taras e fetiches reprimidas e taxadas como erradas. Por isso mesmo seu relato anônimo, pois imagina o que aconteceria com ela se soubessem de fato quem era?
A leitura é um tanto quanto erótica, chegando algumas vezes ao pornô, mas isso não é a intenção do relato. Pelo contrário: toda polêmica que surgiu com o lançamento do livro veio mesmo por intermédio do conflito da moral x carnal. A autoria de forma alguma mostra arrependimento do que fez: se vangloria até hoje de ensinar a jovens rapazes a arte da fornicação.
Até que ponto precisamos mesmo nos privar do sexo? Este é um assunto tão obscuro assim? Até que ponto temos que privar taras e fantasias por regras e morais que estamos cansados de ver que não funcionam?
Nem vou me estender mais. É uma leitura curta e simples: vale muito a pena.
Link do PDF do livro.
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