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5 de jan. de 2016
4 de jan. de 2016
[MICROCONTO] O Homem do Chapéu Negro
Postado por
Diego Meneses
Demorou muitas luas, mas finalmente o Homem de Chapéu Negro chegara ao velho moinho. Envolto sob uma noite escura e brumosa no charco lodoso, pútrido e cercado de árvores secas e anormalmente retorcidas, é nítido que nem mesmo a neve ousa tocar o solo daquele lugar: tudo que restou de uma antiga vila agora se resumia somente, e tão somente, na construção decrépita de pedras negras e irregulares que suavam corrupção a olho nu em uma elevação no terreno cuja trilha que leva até a porta de entrada o tempo quase apagou por completo. O cheiro de morte, os corvos curiosos com o visitante, a água podre que formava uma lama pastosa e escura que sujavam quase aos joelhos do caçador, os pedaços de gente apodrecendo junto a tufos de grama e vermes do tamanho de um dedo polegar não deixavam dúvidas que ele alcançou o covil da bruxa.
Mas não era de uma simples feiticeira que o Homem de Chapéu Negro estava atrás: a criatura que ele caçava era asquerosa, grande, embora andasse arqueada e com sua coluna fazendo quase noventa graus. Ela usava um tipo de magia desconhecida, atraindo as pessoas para próximo de seu covil, e uma vez que as alcançasse, arrancava seus olhos e fazia coleção deles, e comia outras partes do corpo. As vítimas preferidas dessas bruxas eram as grávidas e as crianças, e seus ossos virariam cálices e ferramentas de bruxaria espectral.
A única fonte de luz vinha da cintilante tocha mística que o Homem de Chapéu Negro carregava, uma chama que permitia a iluminação mesmo no caso de escuridões de origem profana; era uma lembrança que o fogo da vida existe mesmo naquele cenário horrendo. Pela última vez, ele checa seu rifle, um Bridesburg Model 1861, arma de tiro único mas confiável, precisa e carregada com sua bala de prata especialmente feita para atingir caças que são resistentes a tiros convencionais. Também confere suas Colt’s, munição para as mesmas e suas bombas alquímicas, previamente preparadas para diminuir o poder mágico da profanação prestes a combater.
Sua melhor arma, no entanto, era Aurora, um sabre finamente fabricado e com uma lâmina tão brilhante quanto à luz da lua, tão bem límpida que mal parecia que ela já tinha se sujado como sangue e vísceras de tantas criaturas profanas. Ninguém sabe o porquê da sua espada ser chamada assim, mas não havia também aquele com coragem para perguntar. O Homem do Chapéu Negro não respondia nada que não fosse relacionado a sua próxima caça ou recompensa, e todos tinham medo dele, onde quer que fosse, mesmo se fosse chamado para o pior dos casos.
Tudo perfeito, exceto por um detalhe: embora não carregue a petulância dos caçadores novatos, sua esperança de volta era diminuta. Influência da criatura? Talvez... Mas como caçador, e portador do Chapéu Negro, a esperança é algo que definitivamente não foi feita para ele, e sim para outros que dependem do sucesso da sua caça. É perda de tempo acreditar que ele possa sair vivo de qualquer missão, enfim; caçadores são feitos para isso, e de um jeito ou de outro, morrer pelas garras, presas ou feitiços, considerando ainda uma morte rápida, é o melhor destino que qualquer Homem de Chapéu Negro pode esperar.
Ele beija sua espada com toda a ternura possível, e salta em direção a parte baixa, onde há muito havia o curso de um vívido riacho hoje apenas lembra um fino curso de água fedorenta. Ele vai em direção ao caminho de entrada do velho moinho e quanto mais se aproxima da entrada, mais é possível escutar o estalar da madeira de dentro da construção, o gotejar da infiltração cair como tiques de relógio, assim como suas hélices que como em uma sobrevida tentam se mover.
Será uma longa noite...
Mas não era de uma simples feiticeira que o Homem de Chapéu Negro estava atrás: a criatura que ele caçava era asquerosa, grande, embora andasse arqueada e com sua coluna fazendo quase noventa graus. Ela usava um tipo de magia desconhecida, atraindo as pessoas para próximo de seu covil, e uma vez que as alcançasse, arrancava seus olhos e fazia coleção deles, e comia outras partes do corpo. As vítimas preferidas dessas bruxas eram as grávidas e as crianças, e seus ossos virariam cálices e ferramentas de bruxaria espectral.
A única fonte de luz vinha da cintilante tocha mística que o Homem de Chapéu Negro carregava, uma chama que permitia a iluminação mesmo no caso de escuridões de origem profana; era uma lembrança que o fogo da vida existe mesmo naquele cenário horrendo. Pela última vez, ele checa seu rifle, um Bridesburg Model 1861, arma de tiro único mas confiável, precisa e carregada com sua bala de prata especialmente feita para atingir caças que são resistentes a tiros convencionais. Também confere suas Colt’s, munição para as mesmas e suas bombas alquímicas, previamente preparadas para diminuir o poder mágico da profanação prestes a combater.
Sua melhor arma, no entanto, era Aurora, um sabre finamente fabricado e com uma lâmina tão brilhante quanto à luz da lua, tão bem límpida que mal parecia que ela já tinha se sujado como sangue e vísceras de tantas criaturas profanas. Ninguém sabe o porquê da sua espada ser chamada assim, mas não havia também aquele com coragem para perguntar. O Homem do Chapéu Negro não respondia nada que não fosse relacionado a sua próxima caça ou recompensa, e todos tinham medo dele, onde quer que fosse, mesmo se fosse chamado para o pior dos casos.
Tudo perfeito, exceto por um detalhe: embora não carregue a petulância dos caçadores novatos, sua esperança de volta era diminuta. Influência da criatura? Talvez... Mas como caçador, e portador do Chapéu Negro, a esperança é algo que definitivamente não foi feita para ele, e sim para outros que dependem do sucesso da sua caça. É perda de tempo acreditar que ele possa sair vivo de qualquer missão, enfim; caçadores são feitos para isso, e de um jeito ou de outro, morrer pelas garras, presas ou feitiços, considerando ainda uma morte rápida, é o melhor destino que qualquer Homem de Chapéu Negro pode esperar.
Ele beija sua espada com toda a ternura possível, e salta em direção a parte baixa, onde há muito havia o curso de um vívido riacho hoje apenas lembra um fino curso de água fedorenta. Ele vai em direção ao caminho de entrada do velho moinho e quanto mais se aproxima da entrada, mais é possível escutar o estalar da madeira de dentro da construção, o gotejar da infiltração cair como tiques de relógio, assim como suas hélices que como em uma sobrevida tentam se mover.
Será uma longa noite...
24 de dez. de 2015
A culpa é da criança!
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Diego Meneses
Enquanto ia para casa, no meu horário de almoço, passei por várias pessoas sendo que a maioria delas eram crianças. Apesar de estar um tanto quanto distraído, não pude deixar de ouvir de uma mãe a seguinte expressão (embora não sejam exatamente essas palavras, mantenho-me o mais fidedigno possível com o teor da mensagem):
Não psicólogo nem pedagogo, apenas um observador às vezes irrelevante dos fatos que acabo vendo aqui e ali. Mesmo que essa mãe tenha dito o que disse apenas no calor do momento, eu ainda acho que isso é preocupante: se em um momento simples ela pensa essas coisas, será que numa dada situação crítica, ela realmente não poderia ter uma atitude inumana? Não é questão de exagero; as pessoas são imprevisíveis, e elas só se dão conta disso quando a situação realmente está crítica.
Mal da geração Y? Gradual incapacidade dos pais serem pais? É torcer para a coisa melhorar, senão...
"A gente vê umas barbaridades que acontecem com crianças, mas tem hora que eu mesma penso em fazer uma besteira. Criança deixa qualquer um doido! É umas coisas que acontecem que a gente acaba vendo que no fundo, algumas coisas têm motivo para ter acontecido."Ora ora... Quer dizer então que a criança é culpada simplesmente... Por ser criança? É justificável espancar alguém — alguém com meros cinco ou seis anos de idade — simplesmente por ser desobediente? Aliás, essa tal desobediência, não deriva do fato dos pais, quase sempre, faltarem com noções básicas de respeito, imposição gradual de limites, ser a referência que norteia aquela "folha em branco" que toma forma dia após dia?
Não psicólogo nem pedagogo, apenas um observador às vezes irrelevante dos fatos que acabo vendo aqui e ali. Mesmo que essa mãe tenha dito o que disse apenas no calor do momento, eu ainda acho que isso é preocupante: se em um momento simples ela pensa essas coisas, será que numa dada situação crítica, ela realmente não poderia ter uma atitude inumana? Não é questão de exagero; as pessoas são imprevisíveis, e elas só se dão conta disso quando a situação realmente está crítica.
Mal da geração Y? Gradual incapacidade dos pais serem pais? É torcer para a coisa melhorar, senão...
5 de dez. de 2015
Bipolaridades cotidianas
Postado por
Diego Meneses
Essa semana, eu estava indo para o trabalho quando eu vi uma moça, muito bonita por sinal, em trajes de academia (embora muito discretos) seguindo tranquilamente pela rua. Um rapaz passou de moto, e me surpreendeu a quantidade de "elogios" que fez à mulher; embora eu não tenha sido capaz de entender por conta do capacete que ele usava e da distância, claramente eu vi que de elogio não tinha nada. A moça meio que se fechou, e procurou nas músicas que ouvia uma distração qualquer para aquilo que ela tinha ouvido e e ignorar a tolice que o cidadão tinha lhe dito.
O rapaz, ao passar por mim, me olhou com uma cara claramente satisfeita (como se tivesse salvado alguém), mas como eu o encarei com desaprovação, ele mudou a expressão para algo do tipo "e daí, ela gosta disso". E foi embora.
Isso me deixou triste. Não é a primeira vez que isso deve ter acontecido com essa moça — nem com várias e várias outras mulheres, rotineiramente —, mas eu sempre me pergunto: esse cara gostaria que fizessem isso se fosse uma filha, irmã, namorada ou noiva dele? É tão difícil se colocar no lugar do outro? Melhor: é tão complexo ter respeito pelo outro?
Isso foi na terça, bem cedo. Durante a semana, vi isso se repetir de forma muito clara, apenas de métodos diferentes, em vários locais, movimentados ou não.
Desanimei da humanidade mais uma vez nessa hora.
***
Fui buscar uma cartinha de criança para apadrinhar nos Correios aqui da cidade, ontem, sexta-feira. Passei no trabalho de uns amigos meus, arrastei dois caras comigo fomos na agência dar uma olhada. O atendimento foi rápido:
— Bom dia. Gostaria de saber se preciso enfrentar fila para ver algumas cartinhas de crianças, para o Natal.
— Bom dia senhor. Precisar precisa sim, mas não há necessidade mais, porque todas já foram apadrinhadas.
O moço sorriu, satisfeito. Deu pra ver na expressão dele uma certa satisfação, como se estivesse fazendo parte de um projeto bacana e útil para todos. E como de fato era: como não se sensibilizar quando você pega uma cartinha e uma garota de sete anos pede pão com mortadela e coca-cola para ela e a irmã? Ou outra, de um rapazinho de seis, querendo carne com batatas? Ou ainda, uma menina de cinco, querendo ganhar arquinho de cabelo e esmalte, porque "não se sentia bonita como as coleguinhas"?
Fiquei surpreso, e feliz. Muito feliz.
Reapaixonei-me pela humanidade mais uma vez nessa hora.
O rapaz, ao passar por mim, me olhou com uma cara claramente satisfeita (como se tivesse salvado alguém), mas como eu o encarei com desaprovação, ele mudou a expressão para algo do tipo "e daí, ela gosta disso". E foi embora.
Isso me deixou triste. Não é a primeira vez que isso deve ter acontecido com essa moça — nem com várias e várias outras mulheres, rotineiramente —, mas eu sempre me pergunto: esse cara gostaria que fizessem isso se fosse uma filha, irmã, namorada ou noiva dele? É tão difícil se colocar no lugar do outro? Melhor: é tão complexo ter respeito pelo outro?
Isso foi na terça, bem cedo. Durante a semana, vi isso se repetir de forma muito clara, apenas de métodos diferentes, em vários locais, movimentados ou não.
Desanimei da humanidade mais uma vez nessa hora.
***
Fui buscar uma cartinha de criança para apadrinhar nos Correios aqui da cidade, ontem, sexta-feira. Passei no trabalho de uns amigos meus, arrastei dois caras comigo fomos na agência dar uma olhada. O atendimento foi rápido:
— Bom dia. Gostaria de saber se preciso enfrentar fila para ver algumas cartinhas de crianças, para o Natal.
— Bom dia senhor. Precisar precisa sim, mas não há necessidade mais, porque todas já foram apadrinhadas.
O moço sorriu, satisfeito. Deu pra ver na expressão dele uma certa satisfação, como se estivesse fazendo parte de um projeto bacana e útil para todos. E como de fato era: como não se sensibilizar quando você pega uma cartinha e uma garota de sete anos pede pão com mortadela e coca-cola para ela e a irmã? Ou outra, de um rapazinho de seis, querendo carne com batatas? Ou ainda, uma menina de cinco, querendo ganhar arquinho de cabelo e esmalte, porque "não se sentia bonita como as coleguinhas"?
Fiquei surpreso, e feliz. Muito feliz.
Reapaixonei-me pela humanidade mais uma vez nessa hora.
27 de nov. de 2015
Dicionário (im)Pessoal #1
Postado por
Diego Meneses
Escrever | v. tr. | v. tr. e pron. | v. intr. | v. pron.
es·cre·ver |ê| - Conjugarverbo transitivo
1. Pôr, dizer ou comunicar por escrito.
2. Encher de letras.
3. Compor, redigir.
4. Ortografar.
(...)
7. Dirigir-se por escrito a alguém.
(...)
8. Representar o pensamento por meio de caracteres de um sistema de escrita.
9. Formar letras.
10. Ser escritor.
Definições do Dicionário (im)Pessoal:
1. Pensar, pensar e pensar sobre o quê redigir no papel ou computador, quase sempre sem sucesso;
2. Indecisão sobre como começar;
3. Vergonha do que escreve, insatisfação, frustração consigo mesmo;
4. Ter mil e uma ideias na cabeça, mas nenhuma capaz de sair dela;
5. Exercer sua criatividade através de um método cujo qual você não domina;
6. Temor em errar feio uma palavra ou expressão, e receber chacota prontamente por isso;
7. Hobby necessário, mas difícil.
***
O Dicionário (im)Pessoal são conceitos de palavras corriqueiras mas que, ao contrário do livro tradicional, foge à regra por permitir interpretações diferentes por cada um que leia aquele termo. Fica a pergunta: o que a palavra da vez lhe traz de experiências, memórias ou sensações? Comente!
9 de jan. de 2015
Feliz 2015!
Postado por
Diego Meneses
Feliz 2015, que já começa com vinte pessoas mortas ao todo na França em função da intolerância religiosa em prol de um deus que prega a paz e união entre os povos.
Feliz 2015, que também mostra uma mídia que acha que pode publicar qualquer coisa de qualquer um "em nome da liberdade de expressão" e espera nunca ser reprimida contra isso. Censura, dizem em todo lugar, doa a quem doer.
Feliz 2015 para as mulheres que ainda são consideradas de "menor valia" dentro da maioria das organizações religiosas existentes mesmo sendo uma delas escolhida e deu origem ao "salvador".
Feliz 2015 para ateus que são considerados umas das minorias mais indesejáveis do Brasil. Mesmo quando você não mata ninguém por uma entidade cósmica que você acredita - nem nunca viu.
Feliz 2015 para negros e homossexuais, que também são pária rente à sociedade, mas ao contrário dos ateus, é mais difícil esconderem o que são.
Feliz 2015, quando na Rússia temos agora que transexuais não podem tirar mais carteira de motorista porque "tem transtornos mentais". Assim como os fetichistas, exibicionistas e voyeuristas.
Feliz 2015, quando se tem uma estrutura religiosa vigente que segrega, pune e visa dinheiro acima de tudo, deixando escorrer entre os dedos conhecimentos medievalescos e tratamento humano beirando a zero. "Em prol do rebanho".
Feliz 2015, lembrando que deus se esqueceu da África e de outras regiões exploradas ao talo. Porque o importante é garantir o carro novo, a TV LED de 50" ou tomar conta do que o outro faz com o próprio corpo.
Feliz 2015 pra mim, porque apesar de eu não roubar, sonegar, matar, estuprar, furtar, blefar, intimidar, torturar ou fazer qualquer outro mal a alguém, ainda assim mereço ir pro inferno (seja qual deles for) porque tenho tatuagem, transei antes do casamento, como carne de porco e não acredito em deus.
2015 promete!
Feliz 2015, que também mostra uma mídia que acha que pode publicar qualquer coisa de qualquer um "em nome da liberdade de expressão" e espera nunca ser reprimida contra isso. Censura, dizem em todo lugar, doa a quem doer.
Feliz 2015 para as mulheres que ainda são consideradas de "menor valia" dentro da maioria das organizações religiosas existentes mesmo sendo uma delas escolhida e deu origem ao "salvador".
Feliz 2015 para ateus que são considerados umas das minorias mais indesejáveis do Brasil. Mesmo quando você não mata ninguém por uma entidade cósmica que você acredita - nem nunca viu.
Feliz 2015 para negros e homossexuais, que também são pária rente à sociedade, mas ao contrário dos ateus, é mais difícil esconderem o que são.
Feliz 2015, quando na Rússia temos agora que transexuais não podem tirar mais carteira de motorista porque "tem transtornos mentais". Assim como os fetichistas, exibicionistas e voyeuristas.
Feliz 2015, quando se tem uma estrutura religiosa vigente que segrega, pune e visa dinheiro acima de tudo, deixando escorrer entre os dedos conhecimentos medievalescos e tratamento humano beirando a zero. "Em prol do rebanho".
Feliz 2015, lembrando que deus se esqueceu da África e de outras regiões exploradas ao talo. Porque o importante é garantir o carro novo, a TV LED de 50" ou tomar conta do que o outro faz com o próprio corpo.
Feliz 2015 pra mim, porque apesar de eu não roubar, sonegar, matar, estuprar, furtar, blefar, intimidar, torturar ou fazer qualquer outro mal a alguém, ainda assim mereço ir pro inferno (seja qual deles for) porque tenho tatuagem, transei antes do casamento, como carne de porco e não acredito em deus.
2015 promete!
19 de dez. de 2014
Cinco coisas que os (velhos) jogos de videogames me ensinaram para a vida adulta
Postado por
Diego Meneses
Fato: seja numa mesa de bar, na casa de alguém ou perambulando na rua, basta alguém comentar de algum jogo antigo que uma enxurrada de opiniões começam a pipocar de todos os lados. E foi pensando nisso, já que sempre presencio este tipo de assunto, que me veio em mente de escrever como eu acho que os jogos das gerações antigas foram muito mais benéficos para mim que os atuais - sem qualquer tipo de menosprezo, claro, até porque, muita coisa de hoje eu não joguei.
Certo, certo. Há sim alguns jogos que lhe oferecem algum tipo de instrução elementar, mas na maioria das vezes, bastava colocar o jogo no videogame, esperar carregar, apertar Start e mandar ver; mesmo aqueles que tinham algum meio de ensiná-lo a jogar também não era necessariamente simples. Em poucos minutos, você já se via em meio a tiroteios frenéticos ou aventuras cabulosas e terrivelmente difíceis.
Era uma época que sem Internet, ou você conseguia ajuda com alguém que já passou por aquela parte do jogo que você está agarrado ou conseguia uma revista lhe descrevendo passo-a-passo o que fazer (os famosos detonados). Ou seja: você se virava.
E sem discussão.
O vídeo abaixo é um dos meus preferidos. É grandinho, mas mostra exatamente o ponto da coisa usando a série Mega Man como exemplo:
Quantas vezes você já zerou um jogo e descobriu só mais tarde que havia um comando ou habilidade que, se soubesse na época, facilitaria (e muito) sua jornada? Assim também não funciona rotineiramente no trabalho, no social, na família, no ato de aproveitar oportunidades que surgem do nada?
E foi assim que aprendi a levar a mecânica gamer old school para minha vida adulta: as pessoas vivem te ensinando as coisas - muitas vezes de forma errada - e você só de fato aprenderá o que e como fazer na prática, no calor do momento. Não é culpa delas (sempre), mas não necessariamente o que elas fizeram que deu certo também dará para mim. Sem muita conversinha: ou aprende e se adapta ao contexto ou fica para trás, o que nos leva ao ponto de que...
Não que os jogos atuais sejam fáceis, mas naquela época, até por limitação técnica, muitos segredos e a própria habilidade do jogador influenciavam em muito para que ele chegasse ao fim de um game. Era preciso reflexos rápidos, atenção e muita perspicácia para perceber aqueles píxels levemente de cor diferentes ali estão indicando uma parede oculta. Pegue Mega Man 1 e 2 de NES (quando ele nem carregava o tiro) ou Crash Bandicoot de PSX (para conseguir todas as gemas) por exemplo.
Sem save states de emulador, no máximo alguns continues. E a tela de Game Over era muito, muito frequente de se ver.
Não muito diferente, se for pensar, do meu dia a dia. Claro que eu sempre tento arrumar um jeito de fazer as coisas da forma mais simples possível, mas como quase nada depende da gente, não adianta "xingar os controles ruins": ou você se vira com aquilo que tem, ou pode desistir para que outro jogador entre no seu lugar.
É aquele caso: apesar de tudo ir contra, não vou saber como o jogo termina se não continuar, mesmo aos poucos, avançando pelas fases. E assim funciona na vida em si.
Mas a dificuldade de tudo é agravada ainda mais porque, no meu trabalho rotineiramente os...
Não é a toa que os gamers são geralmente bem sucedidos por conta de suas habilidades dentro de um cenário empreendedor.
Quem jogou os jogos mais antigos da série Resident Evil ou Silent Hill sabe como é importante saber carregar itens certos na hora certa.
Starcraft, Warcraft, Age of Empires, Command & Conquer... Jogos de estratégia militar que também utilizam gerência de recursos e rápida ação do jogador antes que seja dominado pelo exército rival. Top Gear eu sempre pegava o carro branco porque ele consumia menos, e ainda me lembro das melhores pistas que ele não precisa parar para abastecer.
Saber gerenciar alguma coisa - talento de pessoas ou suprimentos de qualquer tipo - é imprescindível na vida de qualquer pessoa que tem fontes de recurso restritas. Em geral, meus amigos e eu não ganhamos relativamente bem para nos sustentar e depender minimamente possível de nossos pais, mas ainda assim temos que pensar duas vezes antes de gastar a mais em um determinado mês para não sobrecarregar os outros. No trabalho, no meu especificamente, normalmente as ideias que os clientes tem para criação de materiais gráficos não casam com orçamento que eles dispõem. Há quem trabalhe com muitas pessoas, que precisa ainda organizar os respectivos talentos e egos para que a equipe dê resultado. Tudo que, por fim, está ligado a atitude de...
Pegue meu preferido, Final Fantasy III (o VI no Japão). Veja os objetos de cada personagem, a relação de amizade e amor, a importância da família e dos amigos em momentos de crise, e você terá, mesmo dentro daqueles pixels simples, um valor pelo humano tão grande que você se sentirá falta daquilo no seu dia a dia. Quem não jogou ainda sugiro jogar e descobrir a missão de Locke, a relação de Shadow, Relm e Stragos, a decisão de Sabin em abrir mão de ser príncipe enquanto seu irmão Edgar teve que assumir o trono, a cena triste da tomada do castelo do cavaleiro Cyan...
São jogos que muito além de serem simplesmente jogos, mostrava relações crescentes do decorrer do jogo - assim como as nossas, na vida real, com as pessoas que conhecemos e depois nos tornamos amigos. Todo um curso em prol de um bem maior somente é necessário quando todos abraçam a causa, já que...
Coisas bem feitas duram. Tem valor, são respeitadas e tem seu lugar garantido dentro do seu contexto.
Nos videogames não poderia ser diferente, claro. Perceba que até hoje, mesmo com tanta evolução gráfica, boa parte dos times de programadores tem sua inspiração baseada em pérolas de dez, vinte anos atrás.
Pense rápido: você é capaz de dizer ou o nome do personagem ou do jogo que ele participa?
Mas certamente, mesmo que você não seja um gamer, quase saberá o nome deste aqui:
Até hoje, meus amigos, minha namorada e eu nos encontramos para jogar alguma coisa - e quase sempre, acabamos por estar jogando alguma coisa antiga, mesmo com nossos poderosos consoles de última geração.
Os melhores jogos de XBOX por exemplo são aqueles que usam o Kinetic, e mesmo assim, grande parte deles só quando se tem alguém para jogar junto.
E em um mercado competitivo como hoje, saber respeitar diferenças mas também ter habilidade em interagir ao
***
Games não são simplesmente entretenimento eletrônico - não somente na essência. São poderosas formas de desenvolvimento para crianças e adolescentes e até salvam vidas (aqui, aqui ou aqui). E eu sou muito feliz por ter tido a oportunidade de pegar essa geração antiga e entender que hoje, ter muita coisa que eu tenho, foi graças aos videogames lá da minha adolescência que auxiliaram este processo.
E vamos jogar, galera!
1. Aprender a se virar sem instruções de qualquer tipo
Pegue a maioria dos jogos de SNES, Mega Drive, Master System ou PSX: quais deles tinham algum tipo de tutorial lhe explicando alguma coisa, qualquer coisa, desde os comandos mais básicos aos mais complexos?Certo, certo. Há sim alguns jogos que lhe oferecem algum tipo de instrução elementar, mas na maioria das vezes, bastava colocar o jogo no videogame, esperar carregar, apertar Start e mandar ver; mesmo aqueles que tinham algum meio de ensiná-lo a jogar também não era necessariamente simples. Em poucos minutos, você já se via em meio a tiroteios frenéticos ou aventuras cabulosas e terrivelmente difíceis.
Era uma época que sem Internet, ou você conseguia ajuda com alguém que já passou por aquela parte do jogo que você está agarrado ou conseguia uma revista lhe descrevendo passo-a-passo o que fazer (os famosos detonados). Ou seja: você se virava.
E sem discussão.
O vídeo abaixo é um dos meus preferidos. É grandinho, mas mostra exatamente o ponto da coisa usando a série Mega Man como exemplo:
Quantas vezes você já zerou um jogo e descobriu só mais tarde que havia um comando ou habilidade que, se soubesse na época, facilitaria (e muito) sua jornada? Assim também não funciona rotineiramente no trabalho, no social, na família, no ato de aproveitar oportunidades que surgem do nada?
E foi assim que aprendi a levar a mecânica gamer old school para minha vida adulta: as pessoas vivem te ensinando as coisas - muitas vezes de forma errada - e você só de fato aprenderá o que e como fazer na prática, no calor do momento. Não é culpa delas (sempre), mas não necessariamente o que elas fizeram que deu certo também dará para mim. Sem muita conversinha: ou aprende e se adapta ao contexto ou fica para trás, o que nos leva ao ponto de que...
2. Tudo é uma dificuldade constante
Muitos jogos antigos não tinham sequer opção de escolher alguma dificuldade. Às vezes, no máximo, você ia nas opções do jogo e aumentava suas vidas por lá e só, o que nunca garantia necessariamente que você sequer chegaria ao final: quem jogou R-Type ou Darius, aqueles joguinhos de nave de scroll lareral sabe bem o que estou dizendo.![]() |
Darius Twin: joguinho porreta de difícil já na primeira fase |
Não que os jogos atuais sejam fáceis, mas naquela época, até por limitação técnica, muitos segredos e a própria habilidade do jogador influenciavam em muito para que ele chegasse ao fim de um game. Era preciso reflexos rápidos, atenção e muita perspicácia para perceber aqueles píxels levemente de cor diferentes ali estão indicando uma parede oculta. Pegue Mega Man 1 e 2 de NES (quando ele nem carregava o tiro) ou Crash Bandicoot de PSX (para conseguir todas as gemas) por exemplo.
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Contra III: como descabelar um jogador de tanta raiva |
Sem save states de emulador, no máximo alguns continues. E a tela de Game Over era muito, muito frequente de se ver.
Não muito diferente, se for pensar, do meu dia a dia. Claro que eu sempre tento arrumar um jeito de fazer as coisas da forma mais simples possível, mas como quase nada depende da gente, não adianta "xingar os controles ruins": ou você se vira com aquilo que tem, ou pode desistir para que outro jogador entre no seu lugar.
É aquele caso: apesar de tudo ir contra, não vou saber como o jogo termina se não continuar, mesmo aos poucos, avançando pelas fases. E assim funciona na vida em si.
Mas a dificuldade de tudo é agravada ainda mais porque, no meu trabalho rotineiramente os...
3. Recursos são escassos
Até hoje eu tenho a mania de enquanto estar jogando alguma coisa, economizar o máximo de recursos possíveis, mão-de-vaca mesmo. Aprender a gerenciar e tomar decisões dentro de um cenário de jogo é muito importante, tanto para poder evitar um problema quanto para sanar os danos dele caso irremediavelmente ele aconteça. Pegue Sim City, com as catástrofes que acontecerão em sua cidade lindamente construída e você tem exatamente o quanto é importante se preparar para momentos de necessidade.Não é a toa que os gamers são geralmente bem sucedidos por conta de suas habilidades dentro de um cenário empreendedor.
Quem jogou os jogos mais antigos da série Resident Evil ou Silent Hill sabe como é importante saber carregar itens certos na hora certa.
Starcraft, Warcraft, Age of Empires, Command & Conquer... Jogos de estratégia militar que também utilizam gerência de recursos e rápida ação do jogador antes que seja dominado pelo exército rival. Top Gear eu sempre pegava o carro branco porque ele consumia menos, e ainda me lembro das melhores pistas que ele não precisa parar para abastecer.
Saber gerenciar alguma coisa - talento de pessoas ou suprimentos de qualquer tipo - é imprescindível na vida de qualquer pessoa que tem fontes de recurso restritas. Em geral, meus amigos e eu não ganhamos relativamente bem para nos sustentar e depender minimamente possível de nossos pais, mas ainda assim temos que pensar duas vezes antes de gastar a mais em um determinado mês para não sobrecarregar os outros. No trabalho, no meu especificamente, normalmente as ideias que os clientes tem para criação de materiais gráficos não casam com orçamento que eles dispõem. Há quem trabalhe com muitas pessoas, que precisa ainda organizar os respectivos talentos e egos para que a equipe dê resultado. Tudo que, por fim, está ligado a atitude de...
4. Valorizar relações
Pegue os excelentes RPG's antigos: Final Fantasy (até o X de PS2), Dragon Quest, Chrono Trigger/Cross, Legend of Dragoon, Terranigma, Grandia... Se puder jogar algum deles, perceba a interação que existe entre os personagens.Pegue meu preferido, Final Fantasy III (o VI no Japão). Veja os objetos de cada personagem, a relação de amizade e amor, a importância da família e dos amigos em momentos de crise, e você terá, mesmo dentro daqueles pixels simples, um valor pelo humano tão grande que você se sentirá falta daquilo no seu dia a dia. Quem não jogou ainda sugiro jogar e descobrir a missão de Locke, a relação de Shadow, Relm e Stragos, a decisão de Sabin em abrir mão de ser príncipe enquanto seu irmão Edgar teve que assumir o trono, a cena triste da tomada do castelo do cavaleiro Cyan...
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Celes na cena da Opera House. Veja a cena completa aqui |
São jogos que muito além de serem simplesmente jogos, mostrava relações crescentes do decorrer do jogo - assim como as nossas, na vida real, com as pessoas que conhecemos e depois nos tornamos amigos. Todo um curso em prol de um bem maior somente é necessário quando todos abraçam a causa, já que...
5. Quando bem feitas, ideias se tornam inspirações para outras que surgirão posteriormente
Se você acha que jogos antigos são sinônimos de coisas ultrapassadas, basta olhar essa lista aqui, aqui ou aqui e ver a quantidade de jogos da velha guarda existem nelas. Claro que listas são muito parciais, mas as coincidênciasCoisas bem feitas duram. Tem valor, são respeitadas e tem seu lugar garantido dentro do seu contexto.
Nos videogames não poderia ser diferente, claro. Perceba que até hoje, mesmo com tanta evolução gráfica, boa parte dos times de programadores tem sua inspiração baseada em pérolas de dez, vinte anos atrás.
Pense rápido: você é capaz de dizer ou o nome do personagem ou do jogo que ele participa?
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Selecione o texto entre as aspas para saber quem é este personagem: "Nathan Drake, da série Uncharted" |
Mas certamente, mesmo que você não seja um gamer, quase saberá o nome deste aqui:
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Bônus: o poder da interação social
Só como adendo, ao contrário dos jogos de hoje, antigamente era necessário que dois ou mais jogadores estivem ali, ao vivo e a cores, para jogarem juntos. A zoação, diversão e a o valor disso naturalmente é uma coisa que Internet alguma pode oferecer.Até hoje, meus amigos, minha namorada e eu nos encontramos para jogar alguma coisa - e quase sempre, acabamos por estar jogando alguma coisa antiga, mesmo com nossos poderosos consoles de última geração.
Os melhores jogos de XBOX por exemplo são aqueles que usam o Kinetic, e mesmo assim, grande parte deles só quando se tem alguém para jogar junto.
E em um mercado competitivo como hoje, saber respeitar diferenças mas também ter habilidade em interagir ao
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Games não são simplesmente entretenimento eletrônico - não somente na essência. São poderosas formas de desenvolvimento para crianças e adolescentes e até salvam vidas (aqui, aqui ou aqui). E eu sou muito feliz por ter tido a oportunidade de pegar essa geração antiga e entender que hoje, ter muita coisa que eu tenho, foi graças aos videogames lá da minha adolescência que auxiliaram este processo.
E vamos jogar, galera!